UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS

PROFESSOR JAIRO DIAS NOGUEIRA

 

Esta página apresenta alguns textos de Eduardo Galeano, 

Boaventura de Souza Santos e Emir Sader

 

EDUARDO GALEANO

BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS

EMIR SADER

 

Um convite ao vôo

Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?

Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto além 

da infâmia para adivinhar outro mundo possível

Eduardo Galeano*  

 

Milênio vai, milênio vem, a ocasião é propícia para que os oradores de inflamado verbo discursem sobre os destinos da humanidade e para que os porta-vozes da ira de Deus anunciem o fim do mundo e o aniquilamento geral, enquanto o tempo, de boca fechada, continua sua caminhada ao longo da eternidade e do mistério.

Verdade seja dita, não há quem resista: numa data assim, por mais arbitrária que seja, qualquer um sente a tentação de perguntar-se como será o tempo que será. E vá-se lá saber como será. Temos uma única certeza: no século vinte e um, se ainda estivermos aqui, todos nós seremos gente do século passado e, pior ainda, do milênio passado.

Embora não possamos adivinhar o tempo que será, temos, sim, o direito de imaginar o que queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade só tem o direito de ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto além da infâmia para adivinhar outro mundo possível:

o ar estará livre do veneno que não vier dos medos humanos e das humanas paixões;nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães; as pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem programadas pelo computador, nem compradas pelo supermercado e nem olhadas pelo televisor; o televisor deixará de ser o membro mais importante da família e será tratado como o ferro de passar e a máquina de lavar roupa; as pessoas trabalharão para viver, ao invés de viver para trabalhar; será incorporado aos códigos penais o delito da estupidez, cometido por aqueles que vivem para ter e para ganhar, ao invés de viver apenas por viver, como canta o pássaro sem saber que canta e brinca a criança sem saber que brinca; em nenhum país serão presos os jovens que se negarem a prestar o serviço militar, mas irão para a cadeia os que desejarem prestá-lo; os economistas não chamarão nível de vida ao nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à qualidade de coisas; os cozinheiros não acreditarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas; os historiadores não acreditarão que os países gostam de ser invadidos; os políticos não acreditarão que os pobres gostam de comer promessas; ninguém acreditará que a solenidade é uma virtude e ninguém levará a sério aquele que não for capaz de deixar de ser sério; a morte e o dinheiro perderão seus mágicos poderes e nem por falecimento nem por fortuna o canalha será formado em virtuoso cavaleiro; ninguém será considerado herói ou pascácio por fazer o que acha justo em lugar de fazer o que mais lhe convém; o mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se em falência; a comida não será uma mercadoria e nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos; ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão; os meninos de rua não serão tratados como lixo, porque não haverá meninos de rua; os meninos ricos não serão tratados como se fossem dinheiro, porque não haverá meninos ricos; a educação não será um privilégio de quem possa pagá-la; a polícia não será o terror de quem não possa comprá-la; a justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, tornarão a se unir, bem juntinhas, ombro contra ombro; uma mulher, negra, será presidente do Brasil, e outra mulher, negra, será presidente dos Estados Unidos da América; e uma mulher índia governará a Guatemala e outra o Peru; na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque se negaram a esquecer nos tempos da amnésia obrigatória; a Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés e o sexto mandamento ordenará que se festeje o corpo; a Igreja também ditará outro mandamento, do qual Deus se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte" . serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma; os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperam de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar; seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham aspiração de justiça e aspiração de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem nem um pouco as fronteiras do mapa ou do tempo; a perfeição continuará sendo um aborrecido privilégio dos deuses; mas neste mundo confuso e fastidioso, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro.

* Eduardo Galeano é jornalista e escritor, entre outros, de O Século do Vento, As Caras e as Máscaras, Os Nascimentos, O Futebol ao sol e à sombra, O Livro dos Abraços, Dias e noites de amor e de guerra e As Veias abertas da América Latina.

 

 

EDUARDO GALEANO

 ¿Humaniqué?

Humanitario. Adjetivo que confirma
la mala opinión que sobre el género
humano tienen los demás habitantes
de este planeta.

Esta no es la definición del diccionario. No todavía; pero pronto lo será, al paso que vamos. Ahora se invocan razones humanitarias para liberar al general Pinochet, aunque su salud resulta envidiable comparada con el estado en que él dejó a sus miles de muertos y torturados. No menos humanitarias, la verdad sea dicha, habían sido las razones que lo habían llevado a Londres, en 1998: el ex general viajó para comprar armas y cobrar comisiones.

Rueda el mundo, gira el reloj. El mundo demuestra lo humano que es destinando, cada minuto, un millón de dólares a gastos militantes. Las guerras se llaman misiones humanitarias, desde que el presidente Clinton las bautizara así. Rambo es el Erasmo de este nuevo humanismo. Según han contado los corresponsales de guerra, los soldados rusos, que redujeron a cenizas la ciudad de Grozny, tuvieron a Rambo por modelo. Y mientras llovían los bombazos, el general Valeri Manilov, jefe del estado mayor, exigía la rendición de los chechenos aclarando que no se trataba de un ultimátum. "Este es un acto humanitario", declaró.

A Putin no lo quería nadie cuando el zar Boris le cedió su trono. Según las encuestas, lo apoyaba el uno por ciento de la población. Meses después, cuando ya la bandera rusa flamea sobre lo que era Grozny, Putin es el político más popular de Rusia. Hasta su cara de ofidio ha resultado una virtud: éste es el hombre implacable y helado que Rusia necesita.

No hay mejor campaña electoral que una guerra exitosa. Chechenia ha sido salvada del peligro checheno. Putin ha aplicado el mismo tratamiento humanitario que la OTAN había aplicado, poco antes, a Yugoslavia. La terapia viene de la guerra de Vietnam. En 1968, un oficial estadunidense había declarado a la Associated Press: "Hay que destruir la aldea de Ben Tre, para salvarla". Pero en la guerra de Vietnam fueron muchos los invasores que murieron, y muchas fueron las víctimas que la televisión mostró. Desde aquel entonces, las grandes potencias, que comparten el derecho de matar con impunidad, han hecho enormes progresos en el arte de matar a distancia, sin riesgo de morir, y la tecnología, puesta al servicio de la hipocresía, permite que los verdugos no vean a sus víctimas, y la opinión pública tampoco. Las fulminantes operaciones militares que arrasaron barrios enteros de Panamá, Bagdad y Belgrado, y que en Grozny no han dejado piedra sobre piedra, se han traducido en espectaculares ascensos de popularidad para Bush, Clinton, Blair y Putin.

"Cada arma que se dispara es un robo que se comete contra los que tienen hambre y no reciben alimentos, y contra los que tienen frío y no reciben ropa". Aunque fue pronunciada el 16 de abril de 1953, cuando las guerras todavía se llamaban simplemente guerras, la frase tiene mucha actualidad en el mundo de hoy y, sin ir más lejos, en América Latina, donde se han duplicado los gastos militares en la década pasada. El autor de estas palabras sabía muy bien de qué estaba hablando. Dwight Eisenhower no era, que digamos, un agitador pacifista, sino un guerrero profesional que estaba ocupando la presidencia de Estados Unidos.

¿Misiones humanitarias o sacrificios humanos? Para que el orden cósmico continuara funcionando, los aztecas ofrecían corazones humanos a los dioses. Para que el orden terrestre continúe funcionando, el mundo de nuestros días ofrece sacrificios humanos a los fabricantes de armas y a los señores de la guerra. Jehová, el dios de los hebreos, que después fue dios de los cristianos y los musulmanes, amenazaba a quienes no le obedecieran con azotes y plagas, sequías, hambres y derrumbamientos (Levítico, 26), y sin pestañear ejecutaba sus castigos. Pero el Antiguo Testamento queda a la altura de un frijol comparado con los truenos de la ira del Nuevo Orden Mundial. Y jamás a Jehová se le ocurrió decir que fueran humanitarias sus maldiciones y sus venganzas. El era más bien despiadado, pero no era un farsante.

Quizá las guerras son humanitarias en el sentido de que matan cada vez más humanos sin uniforme. Un artículo del New York Times (de R.W. Apple, 21 de diciembre de 1989) exaltó la invasión de Panamá como un exitoso "ritual de iniciación" del presidente Bush, que así demostraba "su voluntad de derramar sangre". En las ceremonias de cacería de nuestro tiempo, el guerrero es el cazador y el civil, la presa. A lo largo del siglo XX, que ha sido, y por lejos, el más carnicero de la historia, hubo 15 por ciento de muertos civiles en la Primera Guerra Mundial. La proporción pegó tremendo salto, hasta 65 por ciento, en la Segunda Guerra Mundial. Y después ha seguido subiendo, en las guerras del medio siglo siguiente, hasta llegar a las espeluznantes estadísticas actuales: nueve de cada 10 víctimas son civiles, y en su mayoría niños.

Muchos de esos niños mueren después que las guerras han terminado. Ellos estallan al contacto con las minas antipersonales sembradas en los campos --que Estados Unidos continúa fabricando y vendiendo a pesar de la prohibición internacional-- o pagan las consecuencias de las guerras ocurridas. En Irak, por ejemplo, la mortalidad infantil se ha triplicado en los años posteriores a la guerra, a causa del bloqueo económico. "Vale la pena", declaró, en 1996, la canciller Madeleine Albright. En Yugoslavia, niños y adultos civiles están sufriendo, ya pasada la guerra, por las radiaciones cancerígenas de las tierras contaminadas por las bombas revestidas de uranio empobrecido, un mortífero producto de descarte de la energía nuclear. Según el Landau Center, un instituto de investigacio- nes que hizo un informe para el gobierno italiano, cada misil Tomahawk puede generar mil 600 enfermos de cáncer. La OTAN había negado el uso del uranio. Después, reconoció que se había utilizado contra los tanques serbios. En total, el diluvio de bombas destruyó 13 tanques.

Estados Unidos, cuyo territorio no ha sido nunca bombardeado por nadie, ha bombardeado a 19 países a lo largo de la segunda mitad del siglo XX: China, Corea, Guatemala, Indonesia, Cuba, Congo, Laos, Vietnam, Camboya, Líbano, Granada, Libia, Nicaragua, Panamá, Irak, Bosnia, Sudán, Afganistán y Yugoslavia. En septiembre de 1999, el presidente Clinton explicó: "Lamentablemente, no podemos responder a todas las crisis humanitarias que se producen en el mundo". Menos mal.


Tomado de: La Jornada, México, D.F., domingo 20 de febrero de 2000.

 

Los derechos de los trabajadores¿

Un tema para arqueólogos?

Más de noventa millones de clientes acuden, cada semana, a las tiendas Wal-Mart. Sus más de novecientos mil empleados tienen prohibida la afiliación a cualquier sindicato. Cuando a alguno se le ocurre la idea, pasa a ser un desempleado más. La exitosa empresa niega sin disimulo uno de los derechos humanos proclamados por las Naciones Unidas: la libertad de asociación. El fundador de Wal-Mart, Sam Walton, recibió en 1992 la Medalla de la Libertad, una de las más altas condecoraciones de los Estados Unidos.

Uno de cada cuatro adultos norteamericanos, y nueve de cada diez niños, engullen en Mc Donald's la comida plástica que los engorda. Los trabajadores de Mc Donald's son tan desechables como la comida que sirven: los pica la misma máquina. Tampoco ellos tienen el derecho de sindicalizarse.

En Malasia, donde los sindicatos obreros todavía existen y actúan, las empresas Intel, Motorola, Texas Instruments y Hewlett Packard lograron evitar esa molestia. El gobierno de Malasia declaró union free, libre de sindicatos, el sector electrónico.

Tampoco tenían ninguna posibilidad de agremiarse las ciento noventa obreras que murieron quemadas en Tailandia, en 1993, en el galpón trancado por fuera donde fabricaban los muñecos de Sesame Street, Bart Simpson y los Muppets.

Bush y Gore coincidieron, durante la campaña electoral del año pasado, en la necesidad de seguir imponiendo en el mundo el modelo norteamericano de relaciones laborales. "Nuestro estilo de trabajo", como ambos lo llamaron, es el que está marcando el paso de la globalización que avanza con botas de siete leguas y entra hasta en los más remotos rincones del planeta.

La tecnología, que ha abolido las distancias, permite ahora que un obrero de Nike en Indonesia tenga que trabajar cien mil años para ganar lo que gana, en un año, un ejecutivo de Nike en Estados Unidos, y que un obrero de la ibm en Filipinas fabrique computadoras que él no puede comprar.

Es la continuación de la época colonial, en una escala jamás conocida. Los pobres del mundo siguen cumpliendo su función tradicional: proporcionan brazos baratos y productos baratos, aunque ahora produzcan muñecos, zapatos deportivos, computadoras o instrumentos de alta tecnología además de producir, como antes, caucho, arroz, café, azúcar y otras cosas malditas por el mercado mundial.

Desde 1919 se han firmado 183 convenios internacionales que regulan las relaciones de trabajo en el mundo. Según la Organización Internacional del Trabajo, de esos 183 acuerdos Francia ratificó 115, Noruega 106, Alemania 76 y Estados Unidos... 14. El país que encabeza el proceso de globalización sólo obedece sus propias órdenes. Así garantiza suficiente impunidad a sus grandes corporaciones, lanzadas a la cacería de mano de obra barata y a la conquista de territorios que las industrias sucias pueden contaminar a su antojo. Paradójicamente, este país que no reconoce más ley que la ley del trabajo fuera de la ley es el que ahora dice que no habrá más remedio que incluir "cláusulas sociales" y de "protección ambiental" en los acuerdos de libre comercio. ¿Qué sería de la realidad sin la publicidad que la enmascara?

Esas cláusulas son meros impuestos que el vicio paga a la virtud con cargo al rubro relaciones públicas, pero la sola mención de los derechos obreros pone los pelos de punta a los más fervorosos abogados del salario de hambre, el horario de goma y el despido libre. Desde que Ernesto Zedillo dejó la presidencia de México pasó a integrar los directorios de la Union Pacific Corporation y del consorcio Procter & Gamble, que opera en 140 países. Además, encabeza una comisión de las Naciones Unidas y difunde sus pensamientos en la revista Forbes: en idioma tecnocratés, se indigna contra "la imposición de estándares laborales homogéneos en los nuevos acuerdos comerciales". Traducido, eso significa: arrojemos de una buena vez al tacho de la basura toda la legislación internacional que todavía protege a los trabajadores. El presidente jubilado cobra por predicar la esclavitud. Pero el principal director ejecutivo de General Electric lo dice más claro: "Para competir, hay que exprimir los limones". Los hechos son los hechos.

Ante las denuncias y las protestas, las empresas se lavan las manos: yo no fui. En la industria posmoderna, el trabajo ya no está concentrado. Así es en todas partes, y no sólo en la actividad privada. Los contratistas fabrican las tres cuartas partes de los autos de Toyota. De cada cinco obreros de Volkswagen en Brasil, sólo uno es empleado de la empresa. De los 81 obreros de Petrobrás muertos en accidentes de trabajo en los últimos tres años, 66 estaban al servicio de contratistas que no cumplen las normas de seguridad. A través de trescientas empresas contratistas, China produce la mitad de todas las muñecas Barbie para las niñas del mundo. En China sí hay sindicatos, pero obedecen a un Estado que en nombre del socialismo se ocupa de la disciplina de la mano de obra: "Nosotros combatimos la agitación obrera y la inestabilidad social, para asegurar un clima favorable a los inversores", explicó recientemente Bo Xilai, secretario general del Partido Comunista en uno de los mayores puertos del país.

El poder económico está más monopolizado que nunca, pero los países y las personas compiten en lo que pueden: a ver quién ofrece más a cambio de menos, a ver quién trabaja el doble a cambio de la mitad. A la vera del camino están quedando los restos de las conquistas arrancadas por dos siglos de luchas obreras en el mundo.

Las plantas maquiladoras de México, Centroamérica y el Caribe, que por algo se llaman sweat shops, talleres del sudor, crecen a un ritmo mucho más acelerado que la industria en su conjunto. Ocho de cada diez nuevos empleos en la Argentina están "en negro", sin ninguna protección legal. Nueve de cada diez nuevos empleos en toda América Latina corresponden al "sector informal", un eufemismo para decir que los trabajadores están librados a la buena de Dios. La estabilidad laboral y los demás derechos de los trabajadores, ¿serán de aquí a poco un tema para arqueólogos? ¿No más que recuerdos de una especie extinguida?

En el mundo al revés, la libertad oprime: la libertad del dinero exige trabajadores presos de la cárcel del miedo, que es la más cárcel de todas las cárceles. El dios del mercado amenaza y castiga; y bien lo sabe cualquier trabajador, en cualquier lugar. El miedo al desempleo, que sirve a los empleadores para reducir sus costos de mano de obra y multiplicar la productividad, es, hoy por hoy, la fuente de angustia más universal. ¿Quién está a salvo del pánico de ser arrojado a las largas colas de los que buscan trabajo? ¿Quién no teme convertirse en un "obstáculo interno", para decirlo con las palabras del presidente de la Coca-Cola, que hace un año y medio explicó el despido de miles de trabajadores diciendo que "hemos eliminado los obstáculos internos"?

Y en tren de preguntas, la última: ante la globalización del dinero, que divide al mundo en domadores y domados, ¿se podrá internacionalizar la lucha por la dignidad del trabajo? Menudo desafío.

Eduardo Galeano

 

Humor negro

Chiste 1

La gasolina con plomo agregado fue un inventito de EU. Allá por los años veinte, se impuso en Estados Unidos y en el mundo. Cuando el gobierno estadunidense la prohibió, en 1986, la gasolina con plomo estaba matando adultos a un ritmo de 5 mil por año, según la agencia oficial que se ocupa de la protección del ambiente. Además, según las numerosas fuentes citadas por el periodista Jamie Kitman en su investigación para la revista The Nation, el plomo había provocado daños al sistema nervioso y al nivel mental de muchos millones de niños, nadie sabe exactamente cuántos, durante 60 años.

Charles Kettering y Alfred Sloan, directivos de la General Motors, fueron los principales promotores de este veneno. Ellos han pasado a la historia como benefactores de la medicina, porque fundaron un gran hospital. 

Chiste 2

Ya los griegos y los romanos sabían que el plomo era enemigo de la sangre, el suelo, el aire y el agua. Eso no tiene nada de nuevo. Sin embargo, algunos países siguen agregando plomo a la gasolina. Y mi país, el Uruguay, pongamos por caso, llega más allá: castiga la buena conducta. La gasolina sin plomo cuesta más cara. Quien contamina menos, paga más. 

Chiste 3

Una empresa estadunidense, Ethyl, y otra inglesa, Octel, venden afuera lo que está prohibido adentro. El aditivo de plomo para la gasolina se exporta a los países que pueden ser intoxicados impunemente: casi todo Africa y algunos otros países del sur del mundo. Para ser un negocio en agonía, no está tan mal. El balance de 1999 reveló que Ethyl tuvo una ganancia bruta de 190 millones de dólares.

El problema de Jack El Destripador era que estaba mal asesorado. El pobre Jack no tenía agentes de relaciones públicas que maquillaran su imagen ni expertos en publicidad que bendijeran sus actos. En cambio, la empresa Ethyl, nacida del matrimonio de General Motors y Standard Oil, dice en su propaganda que "el respeto por la gente" es el valor más importante que guía sus acciones, y que hace lo que hace desarrollando "una cultura basada en la confianza mutua y el respeto mutuo". Y la empresa Octel explica: "Octel continúa desempeñando un papel primordial en el proceso universal de eliminación de los combustibles con plomo, a través del suministro seguro y eficiente de plomo para combustibles, que seguirá brindando a sus clientes mientras ellos lo requieran". Una obra maestra: practicar el crimen es la mejor manera de colaborar en la lucha contra el crimen. 

Chiste 4

Según el último informe del Banco Mundial, 15 por ciento de la población del planeta devora la mitad de toda la energía que el planeta consume. Los automóviles tragan buena parte de esa mitad. En los países ricos, hay 580 vehículos por cada mil habitantes; en los países pobres, hay diez.

Los países ricos han prohibido la gasolina con plomo, pero sus habitantes de cuatro ruedas escupen otros venenos. De la vertiginosa motorización de las calles proviene buena parte de los gases que recalientan el planeta, enloquecen el clima y perforan el ozono. Los automóviles son cada vez más numerosos y cada vez más grandes. Quizá los 4 x 4, que todos los niños del mundo sueñan con tener, se llaman así porque consumen cuatro veces más combustible que los autos pequeños.

Hágase nuestra voluntad, así en la tierra como en el cielo: salvo los bebés, todos tienen automóvil propio en el país que más energía traga y más veneno escupe. El país más glotón y derrochón contiene nada más que 4 por ciento de la población mundial, emite nada menos que 24 por ciento del dióxido de carbono que agrede la atmósfera y gasta dinerales en la publicidad que lo absuelve.

Una organización modestamente llamada Fuerza de Tareas de los Líderes Globales del Medio Ambiente del Mañana ha difundido un mapamundi ecológico, publicado con el mayor destaque en la revista Newsweek y en otros medios, junto con un texto explicativo. Los líderes globales demuestran que los países más ricos son los mejores amigos de la naturaleza, los más eco-friendly, y los principales culpables de las calamidades ecológicas del planeta son Bangladesh y Uganda. 

Chiste 5

El dióxido de carbono, ¿ataca la memoria? Habría que ver. En su campaña presidencial, George W. Bush había prometido que iba a limitar las emisiones de gases tóxicos. Olvidó su promesa apenas abrió la puerta de la Casa Blanca. Dijo no al acuerdo internacional de Kioto y confirmó así, una vez más, que los únicos discursos que merecen ser creídos son los discursos no pronunciados. 

Chiste 6

El gobierno del planeta, ¿es un gobierno o un oleoducto? Las empresas petroleras fueron las que más dinero aportaron a la campaña de Bush, que fue la más cara de la historia. El presidente había fundado la empresa petrolera Arbusto Oil, que luego se llamó Bush Exploration, y que fue finalmente vendida a la Harken Oil & Gas. El vicepresidente, Dick Cheney, acumuló su fortuna personal desde la empresa petrolera Halliburton. A la cabeza de la seguridad nacional está Condoleezza Rice, que integró el directorio de la empresa petrolera Chevron entre 1991 y el año 2000. Don Evans, secretario de Comercio, fue presidente de la empresa petrolera Tom Brown Inc. y director de la empresa de petróleo TMBR/Sharp Drilling. Kathleen Cooper, que se ocupa del comercio en la Secretaría de Asuntos Económicos, fue ejecutiva de la empresa petrolera Exxon. Thomas White, de la Secretaría de Defensa, fue vicepresidente de la empresa petrolera Enron Corporation. 

Chiste 7

Podría llamarse Asociación para el Exterminio del Planeta y sus Alrededores. Pero no: se llama Centro Mundial para el Medio Ambiente.

Entre sus miembros figuran British Petroleum, Occidental Petroleum, Exxon, Texaco, International Paper, Weyerhaeuser, Novartis, Monsanto, BASF, Dow Chemical y Royal Dutch Shell. Todos estos amigos de la naturaleza y de la especie humana, que periódicamente se condecoran entre sí, anunciaron que la empresa Shell recibirá la Medalla de Oro del Medio Ambiente correspondiente a 2001. Entre los muchos méritos de la empresa, cabe mencionar sus esfuerzos por arrasar el delta del Níger y por lograr que la dictadura de Nigeria enviara a la horca, en 1995, al escritor Ken Saro-Wiwa y a otra gente molesta que andaba protestando. 

 

Espejos blancos para caras negras

1. La heroica virtud

Al vertiginoso ritmo de la industria del fin de siglo, el Vaticano está produciendo santos. En los últimos veinte años el papa Juan Pablo II beatificó a más de 900 virtuosos y canonizó a casi 300.

A la cabeza de la lista de espera, favorito entre los candidatos a la santidad, figura el esclavo negro Pierre Toussaint. Se asegura que el Papa no demorará en colocarle la aureola, «por mérito de su heroica virtud».

Pierre Toussaint se llamaba igual que Toussaint Louverture, su contemporáneo, que también fue negro, esclavo y haitiano. Pero ésta es una imagen invertida en el espejo: mientras Toussaint Louverture encabezaba la guerra por la libertad de los esclavos de Haití, contra el ejército de Napoleón Bonaparte, el bueno de Pierre Toussaint practicaba la abnegación de la servidumbre. Lamiendo hasta el fin de sus días los pies de su propietaria blanca, él ejerció «la heroica virtud» de la sumisión: para ejemplo de todos los negros del mundo, nació esclavo y esclavo murió, en olor de santidad, feliz de haber hecho el bien sin mirar a quién. Además de la obediencia perpetua, y de los numerosos sacrificios que hizo por el bienestar de su ama, se le atribuyen otros milagros.

2. El santo de la escoba

San Martín de Porres fue el primer cristiano de piel oscura admitido en el blanquísimo santoral de la Iglesia católica. Murió en la ciudad de Lima, hace tres siglos y medio, con una piedra por almohada y una calavera al lado. Había sido donado al convento de los frailes dominicos. Por ser hijo de negra esclava, nunca llegó a sacerdote, pero se destacó en las tareas de limpieza. Abrazando con amor la escoba, barría todo; después, afeitaba a los curas y atendía a los enfermos; y pasaba las noches arrodillado en oración.

Aunque estaba especializado en el sector servicios, San Martín de Porres también sabía hacer milagros, y tantos hacía que el obispo tuvo que prohibírselos. En sus raros momentos libres, aprovechaba para azotarse la espalda, y mientras se arrancaba sangre se gritaba a sí mismo: «¡Perro vil!». Pasó toda la vida pidiendo perdón por su sangre impura. La santidad lo recompensó en la muerte.

3. La piel mala

A principios del siglo XVI, en los primeros años de la conquista europea, el racismo se impuso en las islas del mar Caribe. Coartada y salvoconducto de la aventura colonial, el desprecio racista se realizaba plenamente cuando se convertía en el autodesprecio de los despreciados. Muchos indígenas se rebelaron y muchos se suicidaron, por negarse al trabajo esclavo, ahorcándose o bebiendo veneno: pero otros se resignaron a otra forma de suicidio, el suicidio del alma, y aceptaron mirarse a sí mismos con los ojos del amo.

Para convertirse en blancas damas de Castilla, algunas mujeres indias y negras se untaban el cuerpo entero con un ungüento hecho de raíces de un arbusto llamado guao. La pasta de guao quemaba la piel y la limpiaba, según se decía, del color malo. Un sacrificio en vano: al cabo de los alaridos de dolor y de las llagas y las ampollas, las indias y las negras seguían siendo indias y negras.

Siglos después, en nuestros días, la industria de los cosméticos ofrece mejores productos. En la ciudad de Freetown, en la costa occidental del Africa, un periodista explica: «Aclarándose la piel, las mujeres tienen mejores posibilidades de pescar un marido rico». Freetown es la capital de Sierra Leona: según los datos oficiales, del Sierra Leone Pharmaceutical Board, el país importa legalmente 26 variedades de cremas blanqueadoras. Otras 150 entran de contrabando.

4. El pelo malo

La revista estadunidense Ebony, de lujosa impresión y amplia circulación, se propone celebrar los triunfos de la raza negra en los negocios, la política, la carrera militar, los espectáculos, la moda y los deportes. Según palabras de su fundador, Ebony «quiere promover los símbolos del éxito en la comunidad negra de Estados Unidos, con el lema: Yo también puedo triunfar».

La revista publica pocas fotos de hombres. En cambio, hay numerosas fotografías de mujeres: leyendo la edición de abril de este año, conté 182. De esas 182 mujeres negras, sólo doce tenían rizos africanos, y 170 lucían pelo lacio. La derrota del pelo crespo —«el pelo malo», como tantas veces he escuchado decir— era obra de la peluquería o milagro de las pócimas. Los productos alisadores del pelo ocupaban la mayor parte del espacio de publicidad en esa edición. Había avisos a toda página de cremas o líquidos ofrecidos por Optimum Care, Soft and Beautiful, Dark and Lovely, Alternatives, Frizz Free, TCB Health-Sense, New Age Beauty, Isoplus, CPR Motions y Raveen. Me impresionó advertir que uno de los remedios contra el cabello africano se llama, precisamente, African Pride (orgullo africano) y, según promete, «plancha y suaviza como ninguno».

5. Una herencia pesada

«Parece negro», o «parece indio», son insultos frecuentes en América Latina; y «parece blanco» es un frecuente homenaje. La mezcla con sangre negra o india «atrasa la raza»; la mezcla con sangre blanca «mejora la especie». La llamada democracia racial se reduce, en los hechos, a una pirámide social: la cúspide es blanca, o se cree blanca: y la base tiene color oscuro.

Desde la revolución en adelante, Cuba es el país latinoamericano que más ha hecho contra el racismo. Hasta sus enemigos lo reconocen; y a veces lo reconocen lamentándolo. Han quedado definitivamente atrás los tiempos en que los negros no podían bañarse en las playas privadas («porque tiñen el agua»).

Pero todavía los negros cubanos abundan en las cárceles y brillan por su ausencia en las telenovelas, como no sea para representar papeles de esclavos o criados. Una encuesta, publicada en diciembre del 98 por la revista colombiana América negra, revela que los prejuicios racistas sobreviven en la sociedad cubana, a pesar de estos 40 años de cambio y progreso, y los prejuicios sobreviven sobre todo entre sus propias víctimas: en Santa Clara, tres de cada diez negros jóvenes consideran que los negros son menos inteligentes que los blancos; y en La Habana, cuatro de cada diez negros de todas las edades creen que ellos son intelectualmente inferiores. «Los negros han sido siempre poco dados al estudio», dice un negro.

Tres siglos y medio de esclavitud son una herencia pesada y porfiada.


Tomado de: La Jornada, México, D.F., sábado 21 de agosto de 1999.

 

El poder es un señor muy distraído

Por privilegio de su impunidad, el poder se da el lujo de vivir en estado de perpetua distracción: se olvida de todo, se equivoca, no sabe lo que dice, ni se da cuenta de lo que hace. Las costumbres del poder se llaman errores o descuidos; pero el sur del mundo paga, con sus muertos por hambre o bala, el precio de las distracciones del norte.

Un zorro suelto en el desierto

Vísperas de Navidad: cohetes y fuegos artificiales en los cielos de occidente. Vísperas del Ramadán: el oriente, en el cielo de Bagdad, bombas y fuegos de guerra. Estados Unidos y Gran Bretaña, fiel servidora que antes fuera ama y señora, han celebrado el fin del 98 mediante la estrepitosa fiesta de la operación Zorro del Desierto. Así, Bill Clinton pudo demostrar que la guerra es la continuación del Kamasutra por otros medios, y Tony Blair pudo revelar, por fin, el enigma de su tercera vía: la tercera vía consiste en matar iraquíes durante tres noches.

¿Hospitales bombardeados, muertos civiles? En las guerras, hay errores inevitables, y por eso los muertos civiles han pasado a llamarse «daños colaterales», collateral damages, desde 1991, cuando el anterior arrasamiento de Irak dejó una montaña de cadáveres que la televisión no mostró. Cuando Estados Unidos y Gran Bretaña, los dos mayores fabricantes de armas del mundo, hicieron, al fin del 98, esta nueva exhibición de sus músculos, se olvidaron de avisar a las Naciones Unidas. El descuido no tenía importancia, habida cuenta de que ambas potencias pueden imponer su veto a cualquier resolución que pretenda condenarlas.

La paradoja es la normalidad del mundo al revés: la falta de respeto a las Naciones Unidas fue el principal pretexto invocado para justificar los bombardeos de castigo contra Irak, mientras los propios bombardeos se burlaban de las Naciones Unidas y de todas las leyes internacionales vigentes. La incoherencia es la normalidad del lenguaje al revés: otro discurso del disparate, un balbuceo que condenaba al condenador, había acompañado la cruzada del 91: Estados Unidos, que venía de invadir a Panamá, castigaba a Irak porque había invadido a Kuwait.

Ahora, hubo también otra coartada: el peligroso Saddam Hussein había almacenado armas nucleares, químicas y biológicas, que amenazaban a los países vecinos. Pero a nadie se le movía un pelo cuando Hussein usaba armas químicas y biológicas contra los iraníes y los kurdos. Y si por eso fuera, Estados Unidos tendría que autobombardearse: concentra la mitad del arsenal mundial de armas nucleares, químicas y biológicas, fabrica la mitad de todas las armas que el mundo compra, tiene el mayor presupuesto militar del planeta y constituyen una comprobado peligro para sus vecinos, a quienes vienen invadiendo, a un ritmo de una invasión por año, desde los inicios de su vida independiente. Y también constituyen un comprobado peligro para sus no vecinos, que ya lo dirían, si hablar pudieran, las víctimas de sus excursiones militares más recientes, contra Sudán, Afganistán y, como ya es habitual, Irak. No hay presidente estadunidense que lo ignore: para subir los índices de popularidad, no hay nada mejor que invadir o bombardear a otros países.

Los papás de la criatura

Poco antes de fin de año, hablando en nombre del gobierno estadunidense, Madeleine Albright reconoció que había sido un error el apoyo de Estados Unidos a las dictaduras latinoamericanas. La detención de Pinochet ocupaba, en esos días, la primera plana de la prensa mundial. ¿Un error? Curiosa manera de nombrar la marca de fábrica. Las guerras se hacen en nombre de la paz, las dictaduras se implantan en nombre de la libertad. Cuando la libertad que de veras importa, que es la libertad del dinero, ya no necesita a los impresentables matarifes de uniforme, el poder se lava las manos y con dos palabras despacha el asunto y cambia de tema. Al fin y al cabo, ¿acaso Henry Kissinger, que inventó a Pinochet, no recibió el premio Nobel de la Paz? Antes de que el juez Garzón cometiera su acto de justicia, que tan escandaloso ha resultado en este mundo acostumbrado a la injusticia, los miles de muertos y torturados por la dictadura de Pinochet eran llamados excesos, y se llamaba milagro chileno a una de las sociedades más desiguales del planeta. El Papa de Roma bendecía al general, a principios del 93, prometiendo para él y su familia «abundante gracia divina», y a principios del 98, hace un rato nomás, el diario liberal The New York Times celebrada el cuarto de siglo del golpe de estado, gracias al cual Chile «ha dejado de ser una república bananera» para convertirse en «la estrella económica de América Latina». A pesar de sus excesos, el modelo Pinochet se difundía como panacea universal.

Los banqueros en Babia

Excesos, errores, descuidos: nadie es perfecto. El 4 de diciembre del 98, mientras doña Madeleine se refería al error del apoyo a las dictaduras latinoamericanas, pavada de error que lleva más de un siglo de sistemáticas carnicerías, otras dos equivocaciones se difundieron desde Washington. Ese día, una comisión de la Cámara de Representantes emitió un informe donde se refería a un descuido: por un descuido, el Citibank había lavado 100 millones de narcodólares, que los traficantes de drogas habían puesto en manos del político mexicano Raúl Salinas. Y ese mismo día, otro informe, otro error: el Banco Mundial criticó públicamente un error de su hermano gemelo, el Fondo Monetario Internacional, cuyas recetas habían agravado la crisis en Tailandia, Indonesia y Corea del Sur. Las recetas del fondo estaban equivocadas, según los técnicos del Banco, a juzgar por sus deprimentes resultados; pero el informe ni siquiera sugería la posibilidad de que pudiera haber algo de equivocado en el hecho de imponer recetas. Ese hecho es un derecho de la dictadura financiera, que ambos organismos ejercen en escala planetaria, y eso está fuera de discusión. Sus tecnócratas recetadores no han aprendido medicina con Hipócrates, ni con Galeno: ellos multiplican las plagas del mundo, aplicando las pócimas enseñadas por las mismas eminencias que habían dictado la política económica del general Pinochet. Y es, por cierto, la dictadura financiera internacional, que gobierna a los gobiernos, la que con sus errores facilita los descuidos de la alta banquería y garantiza impunidad a sus enjuagues. El poder llama errores a la rutina de sus horrores. ¿Una profunda crisis de valores, que el lenguaje revela? Quizá. En todo caso, en el diccionario de este fin de siglo, crisis de valores es el nombre que tiene la caída de las cotizaciones de las acciones en la Bolsa.


Tomado de: La Jornada, México, D.F., jueves 24 de diciembre de 1998

  

 

EDUARDO GALEANO

 

Os valores sem preço

                                Nestes dias estão acontecendo, em muitos países simultaneamente, 

manifestações populares numerosas contra os donos do planeta. 

Nas ruas de muitas cidades, estas manifestações dão o testemunho de um outro mundo possível

O mundo onde a violência transpira por todos os poros, posto sob uma 

cultura militar que ensina a matar. David Grossman, aquele era coronel de tenente do exército 

dos estados unidos e é especializado na pedagogia da guerra demonstrou que o 

homem não é naturalmente inclinado à violência. De encontro com o que se supõe, 

não é fácil de ensinar a matar. A instrução para a violência, que brutalize o soldado, exige intenso 

e prolongado treinamento. De acordo com Grossman, esse treinamento começa,

 nos quartéis, aos dezoito anos de idade. Fora dos quartéis, começa aos dezoito meses da idade.

 De muito cedo, a televisão ensina isto em casa.

Seu compatriota, a linguagem do escritor John, tinha verificado, em 1917, 

que " as guerras crucificam a verdade ". Muitos anos mais tarde, um outro compatriota, 

o pai do presidente Busch, que tinha desencadeado a primeira guerra contra o

 Iraque com a intenção nobre se liberar a Kuwait, publicou suas memórias. 

Nelas confessou que os estados unidos tinham bombardeado Iraque porque não 

poderia ser reservado " que uma potência regional hostil detém uma reserva muito grande d

e petróleo ". Talvez, quem sabe, o filho do presidente Busch publicará enorme errata 

em sua própria guerra contra o Iraque. Onde dirá : " cruzou-se do bom contra o mal" , 

ele deve próprio do dirá " petróleo, petróleo e petróleo". Mais do que errata será necessário.

 será necessário esclareça que onde diz: " comunidade internacional ", entenda-se "

 soldados cabeças e grandes banqueiros ". Quanto são algozes da Paz que nos defende 

dos demônios da guerra? Cinco.

Os cinco países que têm direito a voto no I conselho da segurança das nações unidas. 

E aqueles protetores da Paz são os fabricantes principais de armas. Em que mãos boas nós estamos.

E quanto são os donos da democracia? As cidades votam, mas o veto é dos banqueiros.

Uma monarquia da coroa tripla reina no mundo. Cinco países fazem às decisões no

 Fundo internacional monetário. No banco de mundo, são sete. Na organização mundial do comércio, 

todos os países têm direito do voto, mas nunca se vota. Estas organizações, que governam o mundo, 

merecem nossa gratidão: afogam-se a nossos países, mas mais tarde vendem-nos o salva-vidas da ligação.

Em 1995, a associação psiquiátrica americana publicou um relatório criminal. Qual é, de acordo

 com os peritos, a característica a mais típica dos delinqüentes habitual? A inclinação à mentira.

 E se é pedido: Não é este a maioria identifica perfeito da potência universal? 

O que deve ser, por exemplo, onde diz: " liberdade do trabalho "?

 em linha reta dos industriais a jogar para a lata do lixo dois séculos

 de conquistas no mundo do trabalho.

O dobro na trabalhos pela metade do preço: as programações de borracha, baixos salários, 

e esse cuidado das tomadas do acidentes, das doenças. As companhias multinacionais principais,

 Wal-wal-Mart e McDonald, proíbem os sindicatos claramente. Quem se filia a um sindicato, 

perde seu emprego no ato. No mundo de hoje, isso pune o honestidade e

 compensa a falta dos escrúpulos, o trabalho é somente um objeto.

O Poder é transformado em destino, e as pessoas abandonam 

a esperança como se fora de um cavalo cansado. 

Por essa razão vitória de Lula a presidente de Brasil vai muito além 

das fronteiras deste país: a vitória de um trabalhador dos sindicato,

 que representa a dignidade do trabalho, representa as vitaminas que todos nós

 necessitaram contra a praga do século. De modo que se não nos diga que dentro 

eu carrego contente o encontro com os sofridos e de sempre, nós esclarecemos que

 algo que nós estamos no acordo com os líderes os mais elevados 

do mundo: também nós somos inimigo do terrorismo. 

Nós somos contra terrorismo em todas as suas fórmulas. 

Nós poderíamos propor a Davos uma plataforma comum.

 E o estoque comum para capturar os terroristas, que começariam pela etiqueta, 

em todas as paredes do planeta, dos pôsteres essa palavra quis: - um procura os 

comerciantes de armas, essa necessidade a guerra enquanto os 

fabricantes dos abrigos necessitam o frio. - um procura a faixa internacional que 

seqüestra países e nunca devolve seus cativos, embora recebe os multimillionarios chamados serviços de débito.

um procura os delinqüentes que no alimento planetário do rol da escala, 

* estrangulam salários e assassinam empregos.

*  um procura os ladrões da terra, os envenenados da água e os ladrões das florestas.

*    e também se procura os fanáticos da religião 

do consumo, que desataram à guerra química de encontro ao ar e clima deste mundo.

* a potência identifica o valor e o preço. 

Diz-me o quanto tens, e eu direi quanto vales .

Mas há os valores que são além de toda a citação. Não há um quem os compra, porque não são para a venda. 

São fora do mercado, e por essa razão sobreviveram. 

Porfiadamente vivo, aqueles valores é a energia que move os músculos 

secretos da sociedade civil. Vêm do mais velho o sentido comum . 

Este mundo de agora, esta civilização de salve-se que pode e 

todos a si mesmo, é mal da amnésia e tem perdido o sentido comunitário,

 que é o próprio do sentido comum. Antigamente, quando nós éramos 

mais vulneráveis e mais burros, quando esperávamos que a besta comesse 

vorazmente nossos vizinhos, nós somos capazes de sobreviver, 

se lutarmos contra esta besta compartilharmos o alimento.

Hoje em dia, é mais do que sempre necessário recordar aquelas lições velhas 

do sentido comum. Para defender-nos junto, nós fazemos exame , de modo que não nos roubem a água. 

A água já foi privatizada em muitos países, e estão nas mãos das grandes multinacionais. (de pouco, se nós seguirmos assim, também privatizarão o ar aqui: para não o pagar, nós não sabemos para avaliá-lo e 

nós não merecemos respirá-lo). De modo que a água continue sendo um direito, e não um negócio,

 desprivatizar a água, na região boliviana de 

Cochabamba. Os fazendeiros das comunidades marcharam dos vales

 e obstruíram a cidade. Responderam-lhes a tiros. Mas a longo prazo, após ter lutado muito, 

recuperaram a água, a irrigação do seu pronto para uns, que o governo tinha dado a um corporativismo 

britânico. Isto aconteceu  há poucos anos.

Para defender-nos junto: discurso da água, um outro exemplo mais recente. O petróleo move a sociedade 

de consumidor, porque se sabe, e, porque também sabe, tem maus hábitos. 

Entre outros hábitos impares, destruiu governos, para causar guerras, 

para intoxicar o ar e a água. Recentemente, um mar de pretróleo, a pegajosa e a mortal, 

promove em cobriu o mar e as costas com o Galiza, onde um tanque foi dividido pela metade e 

derramou milhares e os milhares dos litros do combustível de óleo, com os o irresponsabilidade 

e impunidade que se tornou feito sob encomenda nestas épocas em que o mercado comanda e

 o estado não controlam qualquer coisa. E então, antes um estado cego do que e um governo surdo, 

que não fizesse mais do que ao dar os ombros, os músculos secretos da sociedade civil desataram sua energia: 

uma multidão dos voluntários enfrentou a invasão inimiga pela mão limpa, 

armou-se as madeiras e as latas e o que era possível ser encontrado. 

Os voluntários não derramaram lágrimas de crocodilo nem discursos pronunciados do teatro.

Para defender-nos junto e para compartilhar do alimento: uma tonelada o alimento e a roupa 

chegou recentemente, no trem, ao canto o mais deficiente da província

 de Argentina de Tucumán, 

de onde há as crianças que dado da fome. 

E isso compartilhado no shipment comum veio do cartão uns, homens deficientes os 

mais deficientes de Buenos Aires, que ganham o revolvendo da vida os sweepings mas podem

 compartilhar de pequeno, quase o nada, que têm.

Qual é a palavra que é mais escutada no mundo,

 em quase todas as línguas? A palavra EU. Eu, EU, EU e EU.

 Não obstante, um estudante das línguas indígenas, Carlos Lenkersdorf, 

revelou quem a palavra usada mais pelas comunidades de Maya, essa que estão 

no centro dos seus dizeres e os viveres, é a palavra nós. Em Chiapas, nós (TIK)

 somos ditos. Para aquele foi nascido e fórum social para o leste world-wide crescido, 

na cidade do EU carrego o modelo capitalista, 

universal da democracia do participativa: a fim dizer-nos. Tik, tik, tik.

 

O DIREITO AO DELÍRIO

Galeano

Está a nascer o novo milênio. Não dá para levar o assunto demasiado a sério: ao fim e ao cabo o ano 2001 dos cristãos é também  o ano 1379 dos mulçumanos, o 5114 dos maias e o 5762 dos judeus. Além disso, o novo milênio nasce  no primeiro de janeiro por obra e graça de um capricho dos senadores romanos, que em determinada altura decidiram romper com a tradição que mandava celebrar o ano no começo de cada primavera.

A contagem dos anos da era cristã provém ainda de um outro capricho: um belo dia o papa de Roma decidiu datar o nascimento de Jesus, mesmo que ninguém pudesse precisar então em que data tinha nascido. O tempo ri-se dos limites que inventamos  para construirmos a ficção de que ele nos obedece , mas o mundo inteiro celebra e teme essa espécie de fronteira. Milênio vai, milênio vem, a ocasião é, assim , propícia para que oradores de inflamada verve possam perorar acerca do destino da humanidade, e para que os arautos da ira de Deus possam anunciar o fim do mundo. O tempo, esse , lá continua sossegado a uma caminhada ao longo da eternidade e do mistério. Verdade seja dita, porém, a uma data assim, por mais arbitrária que ela seja , não há quem  resista  , e ninguém escapa afinal da tentação de tentar saber como será o tempo que será.

Vá-se lá saber porém como será. Possuímos uma única certeza: no século vinte e um, ainda que possamos estar aqui, seremos todos gente do século passado e, pior ainda, seremos gente do passado milênio. Não podemos todavia tentar adivinhar o tempo que será sem que tenhamos, pelo menos, o direito de imaginar aquele que queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem senão o direito de ver , de ouvir e de calar. Que tal se começássemos a exercer o nunca proclamado direito de sonhar ? Que tal se delirássemos por um pouco ? Vamos então lançar o olhar para lá da infâmia, tentando adivinhar outro mundo possível.

No próximo milênio o ar estará limpo de todo o veneno que venha dos medos humanos e das humanas paixões. Nas ruas , os automóveis serão esmagados pelos cães. As pessoas não  serão programadas por computador , nem compradas no supermercado, nem espiadas por televisor. O televisor deixará  de ser o  membro mais importante da família e será tratado como o ferro de engomar ou a máquina de lavar a roupa. As pessoas trabalharão para viver , em vez de viverem para trabalhar. Será incorporado nos códigos penais o delito de estupidez, que cometem todos aqueles que vivem para ter ou para ganhar , em vez de viverem apenas para viver, como canta o pássaro sem saber que canta  e como brinca a criança sem saber que brinca. Em nenhum país serão presos os jovens que se recusem a cumprir o serviço militar. Os economistas não chamarão de nível de vida ao nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas. Os cozinheiros deixarão de considerar que as lagostas gostam de ser   ser cosidas vivas. Os historiadores deixarão de crer que existiram países que gostaram de ser invadidos. Os policiais não acreditarão mais que os pobres adoram comer promessas. A solenidade deixará de se julgar uma virtude e ninguém tomará a sério nada que não seja capaz de assumir. A morte e o dinheiro perderão os seus poderes mágicos, e nem por disfunção ou por acaso será possível transformar o canalha em cavalheiro virtuoso. Ninguém será considerado herói ou louco só por que faz aquilo que acredita ser justo, em vez de fazer aquilo que mais lhe convém. O mundo já não se encontrará em guerra contra os pobres, mas sim contra a pobreza  e a industria militar não terá outro caminho senão declarar a falência. A comida não será uma mercadoria, nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos. Ninguém morrerá de fome porque ninguém morrerá de indigestão. As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua. Os meninos ricos não serão tratados como se fossem dinheiro porque não existirão meninos ricos. A educação não será um privilégio apenas de quem possa paga-lá . A polícia não será a maldição daqueles que não podem comprá-la. A justiça e a liberdade , irmãs siamesas condenadas a viverem separadas , voltarão a juntar-se, bem unidas ombro com ombro. Uma mulher , negra, será presidente do Brasil   e outra mulher, negra também, será presidente dos Estados Unidos da América: uma mulher índia governará a Guatemala , e outra o Peru. Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental , porque se negaram a esquecer em tempos de amnésia obrigatória. A Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés, e o sexto mandamento mandará festejar o corpo. A Igreja ditará também outro mandamento que havia esquecido: " Amarás a natureza, da qual fazes parte".  E serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma.

Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados,. porque eles são aqueles que desesperam de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar . Seremos compatriotas e contemporâneos  de todos  os que tenham desejo de justiça e desejo de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido onde tenham vivido, sem que importem as fronteiras do mapa e do tempo. A perfeição continuará  a sr o aborrecido privilégio dos deuses, mas nesse mundo imperfeito e exaltante , cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro. ( Dez/1999)

 

Curiosidades da Guerra

Eduardo Galeano

 Quem elegeu Bush presidente do planeta? A mim ninguém chamou para votar nessas eleições. E a vocês? - A sociedade de consumo, embriagada de petróleo, tem medo da síndrome de abstinência.

Em meados do ano passado, enquanto esta guerra estava sendo incubada, George W. Bush declarou que "devemos estar prontos para atacar em qualquer obscuro rincão do mundo". O Iraque é, portanto, um obscuro rincão do mundo. Acreditará Bush que a civilização nasceu no Texas e que seus compatriotas inventaram a Escritura? Nunca ouviu falar da biblioteca de Nínive, nem da Torre de Babel, nem dos Jardins Suspensos da Babilônia? Não ouviu nem um só dos contos das Mil e Uma Noites de Bagdá?

Quem o elegeu presidente do planeta? A mim, ninguém chamou para votar nessas eleições. E a vocês? Elegeríamos um presidente surdo? Um homem incapaz de ouvir nada além dos ecos de sua voz? Surdo diante do troar incessante de milhões e milhões de vozes que nas ruas do mundo declaram a paz ao invés da guerra? Nem mesmo foi capaz de ouvir o carinhoso conselho de Günter Grass. O escritor alemão, compreendendo que Bush tinha necessidade de demonstrar algo muito importante ao seu pai, recomendou que consultasse um psicanalista em lugar de bombardear o Iraque.

Em 1898, o presidente estadunidense William McKinley declarou que Deus havia dado a ordem de ficar com as Filipinas, para civilizar e trazer para o cristianismo seus habitantes. McKinley disse que falou com Deus enquanto caminhava, à meia-noite, pelos corredores da Casa Branca. Mais de um século depois, o presidente Bush garante que Deus está do seu lado na conquista do Iraque. A que horas e em que lugar recebeu a palavra divina? E por que Deus teria dado ordens tão contraditórias a Bush e ao papa em Roma?

Declara-se a guerra em nome da comunidade internacional, que está farta de guerras. E, como de costume, declara-se a guerra em nome da paz. Não é pelo petróleo, dizem. Mas, se o Iraque produzisse rabanetes em lugar de petróleo, a quem ocorreria invadir esse país? Bush, Cheney e a doce Condoleezza realmente renunciaram aos seus altos empregos na indústria petrolífera? Por que essa mania de Tony Blair contra o ditador iraquiano? Não será porque há 30 anos Saddam nacionalizou a britânica Irak Petroleum Company? Quantos poços Aznar espera receber na próxima partilha?

A sociedade de consumo, embriagada de petróleo, tem medo da síndrome de abstinência. No Iraque, o elixir negro é menos caro e, talvez, em maior quantidade. Em uma manifestação pacifista, em Nova York, um cartaz perguntava: "Por que o nosso petróleo está debaixo das areias deles?".

Os Estados Unidos anunciaram uma longa ocupação militar, depois da vitória. Seus generais cuidarão de estabelecer a democracia no Iraque. Será uma democracia igual à que acertaram para o Haiti, a República Dominicana ou a Nicarágua? Ocuparam o Haiti durante 19 anos e fundaram um poder militar que desembocou na ditadura de Duvalier. Ocuparam a República Dominicana por nove anos e fundaram a ditadura de Trujilllo. Ocuparam a Nicarágua durante 21 anos e fundaram a ditadura da família Somoza.

A dinastia dos Somoza, que os fuzileiros navais colocaram no trono, durou meio século, até que, em 1979, foi varrida pela fúria popular. Então, o presidente Reagan montou a cavalo e se lançou a salvar seu país ameaçado pela revolução sandinista. A Nicarágua, pobre entre os pobres, tinha, no total, cinco elevadores e uma escada rolante, que não funcionava. Mas Reagan denunciava que a Nicarágua era um perigo; e, enquanto falava, a TV mostrava um mapa dos EUA pintado de vermelho desde o sul, para ilustrar a iminente invasão. O presidente Bush copia seus discursos que semeiam o pânico. Bush diz Iraque onde Reagan dizia Nicarágua?

Títulos dos jornais, nos dias prévios à guerra: "Os EUA estão prontos para resistir ao ataque". Recorde de vendas de fitas isolantes, máscaras antigás, pílulas anti-radiação... Por que o verdugo tem mais medo do que a vítima? Apenas por este clima de histeria coletiva? Ou treme porque pressente as consequências de seus atos? E se o petróleo iraquiano incendiar o mundo? Não será esta guerra a melhor vitamina que o terrorismo internacional está precisando?

Dizem-nos que Saddam alimenta os fanáticos da Al Qaeda. Um criador de corvos para que lhe arranquem os olhos? Os fundamentalistas islâmicos o odeiam. É satânico um país onde se assiste a filmes de Hollywood, colégios ensinam inglês, a maioria muçulmana não impede que os cristãos andem com a cruz no peito e não é muito raro ver mulheres muçulmanas vestindo calça comprida e blusas audaciosas.

Não houve nenhum iraquiano entre os terroristas que atacaram as torres de Nova York. Quase todos eram da Arábia Saudita, o melhor cliente dos EUA no mundo. Também Bin Laden é saudita, esse vilão que os satélites perseguem enquanto foge a cavalo pelo deserto e que diz presente cada vez que Bush precisa de seus serviços como ogro profissional.

Sabia que o presidente estadunidense Eisenhower disse, em 1953, que a "guerra preventiva" era uma invenção de Hitler? Ele disse: "Francamente, não levaria a sério alguém que viesse me propor semelhante coisa". Os EUA são o país que mais armas fabrica e vende no mundo. Também é o único país que lançou bombas atômicas contra população civil. E sempre está, por tradição, em guerra contra alguém. Quem ameaça a paz universal? O Iraque?

O Iraque não respeita as resoluções das Nações Unidas? Elas são respeitadas por Bush, que acaba de desferir a mais espetacular patada na legalidade internacional? São respeitadas por Israel, país especializado em ignorá-las? O Iraque desconheceu 17 resoluções das Nações Unidas. Israel, 64. Bombardearam Bush e seu mais fiel aliado?

O Iraque foi arrasado, em 1991, pela guerra de Bush pai e deixado esfomeado pelo posterior bloqueio. Que armas de destruição em massa podem esconder esse país maciçamente destruído? Israel, que desde 1967 usurpa terras palestinas, conta com um arsenal de bombas atômicas que garante a impunidade. E o Paquistão, outro fiel aliado que também é um notório ninho de terroristas, exibe suas próprias ogivas nucleares. Mas o inimigo é o Iraque, porque "poderia ter" essas armas. Se as tivesse, como a Coréia do Norte proclama possuir, se animariam em atacá-la?

E as armas químicas ou biológicas? Quem vendeu a Saddam Hussein a matéria-prima para fabricar os gases venenosos que asfixiaram os curdos e os helicópteros para lançar esses gases? Por que Bush não mostra os recibos? Naqueles anos, guerra contra o Irã, guerra contra os curdos, era Saddam menos ditador do que é agora? Até Donald Rumsfeld o visitava em missão de amizade. Por que os curdos são comoventes agora, e antes não? E por que só são comoventes os curdos do Iraque, e não os curdos muito mais numerosos que a Turquia sacrificou?

Rumsfeld, atual secretário da Defesa, anuncia que seu país usará "gases não-letais" contra o Iraque. Serão gases tão pouco letais como esses que Putin usou, no ano passado, no teatro de Moscou e que mataram mais de cem reféns?

Durante muitos dias as Nações Unidas cobriram com uma cortina o quadro "Guernica", de Picasso, para que essa desagradável obra não perturbasse os toques de clarim de Colin Powell. De que tamanho será a cortina que esconderá a carnificina no Iraque, segundo a censura total que o Pentágono impôs aos correspondentes de guerra?

Para onde irão as almas das vítimas iraquianas? Segundo o reverendo Billy Graham, assessor religioso do presidente Bush e agrimensor celestial, o Paraíso é bem pequeno: mede nada mais que 1.500 milhas quadradas. Poucos serão os eleitos. Adivinhação: qual será o país que comprou quase todas as entradas?

E uma pergunta final, que peço emprestada a John Le Carré:

- Vão matar muita gente, papai?

- Ninguém que você conheça, querido, apenas estrangeiros. 

(Agência Envolverde)

Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, é autor de "As Veias Abertas da América Latina".  

 

Carta de despedida de Che para Fidel"

 

"Ano da Agricultura"

Habana

Fidel:
    Me recordo nesta hora de muitas coisas, de quando te conheci na casa de María Antonia, de quando você me propôs vir, de toda a tensão dos preparativos.
    Um dia passaram perguntando a quem se devia avisar em caso de morte e a possibilidade real disto nos golpeou a todos. Depois soubemos que era certo, que em uma revolução se triunfa ou se morre (se é verdadeira). Muitos companheiros caíram ao longo do caminho à  vitória.
    Hoje tudo tem um tom menos dramático porque somos mais maduros, porém o fato se repete. Sinto que cumpro a parte de meu dever que me atava à Revolução Cubana em seu território e me despeço de ti, dos companheiros, de teu povo que já é meu.
    Faço um formal renúncia de meus cargos na Direção do Partido, de meu posto de Ministro, de meu grau de Comandante, da minha condição de cubano. Nada legal me ata a Cuba, só laços de outros tipos que não se podem romper como as nomeações.
    Fazendo um balanço de minha vida passada, creio haver trabalhado com suficiente honradez e dedicação para consolidar o triunfo revolucionário.
    Minha única falta de alguma gravidade é não haver confiado mais em ti desde os primeiros momentos da Sierra Maestra e não haver compreendido com suficiente celeridade tuas qualidades de condutor e de revolucionário.
    Vivi dias magníficos e senti a teu lado o orgulho de pertencer a este nosso povo nos dias luminosos e tristes da Crise do Caribe.
    Poucas vezes brilhou mais alto um estadista que nesses dias, me orgulho também de haver te seguido sem vacilações, identificado com tua maneira de pensar e de ver e apreciar os perigos e os princípios.
    Outras terras de mundo reclamam o concurso de meus modestos esforços. Eu posso fazer o que te está negado por tua responsabilidade à frente de Cuba e chegou a hora de separar-nos.
    Saiba que o faço com una mescla de alegria e dor, aqui deixo a mais pura de minhas esperanças de construtor e o mais querido entre meus seres queridos... e deixo um povo que me admitiu como um filho; isso corta una parte de meu espírito. Nos novos campos de batalha levarei a fé que me ensinou, o espírito revolucionário de meu povo, a sensação de cumprir com o mais sagrado dos deveres; lutar contra o imperialismo onde queira que esteja; isto reconforta e cura com vantagens qualquer partida.
    Digo uma vez mais que libero a Cuba de qualquer responsabilidade, salvo a que emane de seu exemplo. Que se me chega a hora definitiva sob outros céus, meu último pensamento será para este povo e especialmente para ti. Agradeço por teus ensinamentos e teu exemplo ao que tratarei de ser fiel até as últimas consequencias de meus atos. Estarei identificado sempre com a política exterior de nossa Revolução e  sigo estando. Que  onde queira que esteja sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal atuarei. Que não deixo a meus filhos e minha mulher nada material e não me entristeço: me alegra que assim seja. Que não peço nada para eles pois e Estado lhes dará o suficiente para viver e educar-se.
    Teria muitas coisas que dizer a ti e a nosso povo, porém sinto que não são necessárias, as palavras não podem expressar o que eu quereria dizer, e não vale a pena borrar papéis.
    Até a vitória sempre, Pátria ou Morte!
    Te abraça com todo o fervor revolucionário,

 

 

BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS

 

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal

 

O Império incessante

Estava errado Marx quando pensava que o capitalismo era um sistema econômico. É, ao contrário, um sistema de dominação global que inclui a guerra, o sexismo, o racismo, o colonialismo e o imperialismo.

Boaventura de Sousa Santos - 7/4/2003

Escrevendo no final da 2ª Guerra Mundial, o filósofo Levinas afirma que o horror nazi não o surpreendeu. Segundo ele, não tendo sido inevitável o nazismo, tão pouco surgiu por acaso. A violência e a guerra em que se traduzira estavam inscritas nas concepções de ser e existência que têm dominado o Ocidente. Há nessas concepções uma violência ontológica que consiste em negar a existência do outro como igual. Trata-se de uma idéia colonial do ser que justifica a aniquilação do outro. Levinas pretendia com isto mostrar como surgira o antisemitismo. Penso que a colonialidade do ser e do poder são inerentes às sociedades modernas pelo menos desde o séc. XV e que as suas manifestações são muito mais vastas que o antisemitismo. São o racismo, o sexismo, a guerra, o colonialismo e o imperialismo.

Essa colonialidade consiste em atribuir-se o direito de definir quem é igual e quem é diferente e de decidir a sorte do diferente porque inferior. A justificação da decisão é dupla: por um lado, o inferior é perigoso, por outro lado, não sabe o que é bom para ele. O tempo e o espaço do inferior são vazios de sentido e por isso disponíveis para serem ocupados. Esta idéia de vazio de sentido provém de uma ignorância ativamente produzida a respeito do inferior. Do inferior não se pode ter um conhecimento detalhado porque isso complica o objetivo da ocupação. As terras dos indígenas da América estavam vazias porque ocupadas por seres sub-humanos. Tal como para Freud a sexualidade é masculina e a mulher, um ser castrado pronto a ser ocupado pelo desejo do homem. Tal como para Bush os iraquianos desejam a ocupação para serem libertados ou têm de se resignar a serem objetos de ocupação imperial. A possibilidade de resistência por parte deles não cabe na ignorância que se tem deles. Por isso, causa surpresa. É um comportamento bizarro. Porque conscientemente instrumental, o conhecimento que se tem do ser inferior é seletivo, estritamente direcionado para ocupação e imune a qualquer contaminação de proximidade. As bombas inteligentes são a versão mais acabada deste conhecimento em ação.

A ocupação imperial é sempre reivindicada em nome do espaço vital, a expansão do campo de ação para que o ser colonizador possa desenvolver plenamente a sua humanidade. Este espaço vital tanto podem ser as terras indígenas da Conquista, como as terras africanas depois da Conferência de Berlim, o corpo da mulher, dos escravos ou dos recrutados para o trabalho forçado, ou agora os poços de petróleo do Iraque. Para ser eficaz, a reivindicação do espaço vital tem de ser unilateral e inconsciente da sua unilateralidade. Na semana passada, o jornalista financeiro da Antena 1 afirmava com a máxima circunspeção: "Para levantar a moral dos mercados é fundamental que Bagdá seja ocupada esta semana".

A humanidade só pode chegar ao colonizado por via da ocupação. Por isso é tão fácil destruir a democracia em nome da democracia, eleger ditaduras e reservar os direitos humanos para quem os merece. Em 5 de Março, o jornalista da Fox News comentava assim a tortura a que teria sido submetido um alegado membro da Al Quaeda: "é um pedaço de lixo humano sem direitos de nenhuma espécie". A ocupação é uma destruição criadora. Por coerência, a reconstrução do Iraque tem de começar no dia da sua destruição. Quanto mais destrutiva é a ocupação, mais alta é a justificação. Dizia Hitler: "Deus está conosco". Neste particular, Bush não é diferente.

Estava errado Kant quando pensava que o iluminismo traria a paz perpétua. Ao contrário, a guerra é inerente à modernidade. Estava errado Lenin quando pensava que o imperialismo era uma fase superior do capitalismo. Ao contrário, o capitalismo tem sido sempre imperial. Estava errado Marx quando pensava que o capitalismo era um sistema econômico. É, ao contrário, um sistema de dominação global que inclui a guerra, o sexismo, o racismo, o colonialismo e o imperialismo.